Praia NOITE
Poema de Antonio Miranda
1.
Praia sem estrelas, sem
banhistas, nossos olhos
e as luzes marítimas
da orla refletidas em nós.
Praia noite, ventos alísios
e a timidez dos iniciados.
Paisagem comum, cotidiana
e mais por isso, íntima.
Não a noite dos boêmios
ou dos poucos românticos;
noite nua, os ventos vagos
e as palavras mornas, suas.
Os personagens da noite
trêmulos e vacilantes,
os nossos passos errantes
descobrindo o de sempre.
Descobrindo-nos. A noite
em que penetramos andando
pelas esquinas e as palavras,
risos e toda espontaneidade.
A noite aproximando-nos.
2.
Andando o tempo em palavras
nos vamos reconhecendo.
A noite em seus estertores.
A manhã quando nasce
como uma auréola
em nós, como os anéis
invisíveis do amor em nós.
Um diálogo quase estéril,
arrastado e brumoso
a poucos metros do mar:
é a manhã que nasce, maré.
O amor que nego, dialogamos,
as longas definições,
o vai-e-vem das ondas
saindo das brumas e dúvidas.
Copacabana que vive em nós,
em outros dorme, e passos
primeiros dos que levantam
para o trabalho rotineiro.
A luz prometida no horizonte
e as nossas promessas, vagas
da maré, as palavras mudas
de toda responsabilidade.
É um novo dia que nasce
preamar, no nosso amor,
arrastando-se no tempo
e não estamos seguros. Juro.
16.05.1964
|